“Nada inesperado e maravilhoso vai acontecer se você tiver um itinerário em Paris preenchido pelo Louvre e pela Torre Eiffel”, Anthony Bourdain, viajante, chef e escritor, no livro Volta ao Mundo: Um Guia Irreverente.
A menos que você esteja em Paris agora. E com um QR code de segurança para acessar alguns dos pontos turísticos mais visitados em todo o mundo. Aí o inesperado e o maravilhoso acontecerão diante dos seus olhos: a abertura dos Jogos Olímpicos de Verão 2024.
Não como acontece tradicionalmente, fechada em um estádio, mas ao ar livre, na principal artéria da cidade: o rio Sena, passando pelas duas ilhas e por várias de suas pontes. Mais de 10 mil atletas desfilando em barcos no coração de Paris, que sabe melhor que ninguém ser não só anfitriã da festa, mas protagonista. Não é à toa que as cadeiras das terrasses estão sempre voltadas para a rua.
Com vista para a Torre Eiffel, a cerimônia termina no Trocadéro após o extravagante percurso fluvial de seis quilômetros, mas o espetáculo promete alongar-se por duas semanas em uma cidade redesenhada para o evento. Na modalidade locação para as competições, a França já é ouro. E com medalha feita de ferro da torre mais famosa do mundo, pintada atualmente de dourado, para reafirmar a conexão das Olimpíadas com a cidade.
Despoluído ou não, haverá maratona de natação no Sena; a praça do Louvre fará parte dos percursos de ciclismo de estrada e maratona; taekwondo e esgrima acontecerão no Grande Palais; basquete 3x3, break e skate serão disputados na Place de la Concorde; e o Hôtel des Invalides será o pano de fundo para arco e flecha. Saindo do centro, ciclistas vão subir as ladeiras de Montmartre. Até o Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, irá receber o hipismo.
Pronto, só aí já existe um itinerário de respeito, preferencialmente para ser percorrido a pé: flanando. No máximo de bicicleta, sem perder nenhum segundo de contemplação à beleza1. Escrevo estas linhas e me arrependo de não ter me planejado para pegar um voo de duas horas e participar de uma Olimpíada pela primeira vez, além de visitar a cidade pela terceira. Questões de segurança, alto custo e aglomerações me afastaram da ideia.
Afinal, 11 milhões de pessoas são esperadas em um local que normalmente já é bem cheio e nem sempre muito hospitaleiro. Pensei como os parisienses, que deixaram a cidade em massa e devem estar agora no Pays Basque ou na Riviera Francesa — talvez avistando a competição de vela, que acontecerá na incrível Marseille, ou algum jogo de futebol, como a estreia da seleção feminina em Bordeaux. Ao que tudo indica, serão Jogos Olímpicos sem as pessoas locais.
Paris nem sempre é uma boa ideia. A menos que se renda ao clima da festa, seja esta qual for. De toda forma, nós sempre teremos Paris — e todos os seus incontornáveis clichés.
FLÂNEUSERIE 💃🏻
[Recomendações de lugares por onde andei, testei e aprovei]
— Place des Vosges: talvez das praças mais bonitas do mundo, a mais antiga de Paris, no coração do Marais, onde me hospedei na última vez em que lá estive;
— Galerie Vivienne: um centro comercial de luxo na forma dos clássicos corredores cobertos com mais de 200 anos de história. Junto com Samaritaine, é alternativa à mais conhecida Galerie Lafayette, embora nenhuma ofereça vistas tão bonitas quanto essa última;
— Fotoautomat: cabines fotográficas ao estilo Amélie Poulain a espalhadas por Paris (e não só) e que proporcionam fotos lindas de recordação;
— Bibliothèque Nationale de France Richelieu: espaço de investigação e sala de leitura que abrem ao público em função do apelo arquitetônico;
— Halle Saint-Pierre: uma mistura de centro artístico, livraria e café para uma pausa quando visitando Montmartre.
SALVO EM ONDE QUERO IR 💾
[Onde ainda não fui, mas salvei na lista para ir]
— Musée des Arts Décoratifs, Musée Marmottan Monet e Musée Rodin: três alternativas menos hypadas e ainda assim interessantes de museus;
— Librairie des Alpes: uma livraria de viagem que tem as montanhas como Norte;
— Bourse de Commerce: a coleção de arte contemporânea de François Pinault no prédio deslumbrante da bolsa de comércio;
— 59 Rivoli: coletivo de arte em um antigo edifício ocupado que tem exposições e concertos na programação;
— Studio 28: sala mítica de cinema com lustres desenhados por seu padrinho, o poeta e romancista Jean Cocteau.
→ Tem alguma recomendação? Deixa pelos comentários!
UMA ÚLTIMA VISTA D'OLHOS 👀
[Inspiração para espreitar antes de ir embora]
— Chama olímpica na neve eterna, imagens belíssimas da tocha em Chamonix, nos Alpes Franceses, um lugar que ando maluca para visitar;
— Strolling in Paris, página bem flâneuse que uma amiga querida me indicou há um tempo e que adoro acompanhar para fisgar novos marchès, restaurantes, antiquários, cafés e museus para conhecer;
— Identidades híbridas, vídeo incrível sobre um dos temas mais atuais destas Olimpíadas, com a assinatura do Caio Braz, jornalista brasileiro que está em Paris para consolidar o seu olhar diferenciado para este tipo de evento;
— Moda esportiva, nesta seleção com os uniformes mais bonitos destas Olimpíadas, fico entre as peças da Mongólia e do Tahiti, com pesar do que coube ao meu país. Também adorei este unpacking do time Países Baixos;
— Souvenir como laissez-faire, desta curadoria do que comprar em Paris, gostei em especial do saco para baguete;
→ EXTRA: Comecei a listar alguns lugares para comer & beber, mas esta é uma missão quase impossível em se tratando da Cidade Luz, onde há uma infinidade de bons restaurantes, cafés, pastelarias e bares. Por isso, lembrei aos 45 do segundo tempo de indicar a newsletter Paris by Mouth — Where to Eat in Paris, em especial esta edição. Bônus track: os três tipos de restaurantes franceses explicados pelo Taste Atlas.
Obrigada não só pela leitura, mas pela paciência por aguardar o breve hiato pelo qual a publicação desta newsletter passou no último mês.
Um misto de cansaço, viagem de férias e pesquisa de temas complexos fez com que eu preferisse adiar algumas publicações. Aos poucos, pretendo retomar o ritmo por aqui, talvez quinzenalmente. Portal do Mundo, a coluna dedicada à literatura de viagem, seguirá sendo disparada na última terça-feira do mês.
Bom proveito e até a próxima edição!
Um abraço com saudades,
“The streets of Paris had a way of making me stop in my tracks, my heart suspended. They seemed saturated with presence, even if there was no one there but me. These were places where something could happen, or had happened, or both”, Lauren Elkin em Flâneuse.
Sem perder a visão crítica: houve uma expulsão em massa de sem-tetos das ruas de Paris, colocando em xeque a “pátria dos direitos humanos”.
As aberturas dos jogos sempre me emocionam, mas tive receio de assistir, apesar da primeira vez estando tão perto, por conta das aglomerações. Porém, para uma primeira visita a paris, já anotei as recomendações =) Obrigada pelo texto
A abertura foi mesmo um espetáculo! Cumpriu com o prometido