46 | Astrocartografia 🔮
O poder transformador dos lugares para onde viajamos por um tempo ou em definitivo.
“She wanted to die, but she also wanted to live in Paris”, Gustave Flaubert em Madame Bovary.
Em todo início de ano, acumulam-se listas de lugares para visitar nos próximos 365 dias. Gosto, em particular, da curadoria do The New York Times, que embasa de forma interessante — muito além da abertura de novos hotéis — escolhas pouco óbvias. No topo dos achados para 2025, por exemplo, está a Inglaterra rural da escritora Jane Austen, de quem se comemora o aniversário de número 250.
Fico atenta às tendências e factualidade, mas também tento investigar os meus desejos de viagem de forma um pouco mais profunda, sobretudo em novos ciclos. Pergunto-me que tipo de paisagem gostaria de contemplar, com qual realidade poderia ser confrontada e quais experiências busco com os deslocamentos. É daí que parte o meu planejamento, que depois continua com aspectos de ordem mais prática, nomeadamente uma promoção de passagens.
Mas, se me permitem continuar em camadas mais sutis relacionadas às escolhas para onde ir, hoje gostaria de escrever a respeito da astrocartografia: uma disciplina da astrologia que promove o espelhamento entre o mapa natal e o mapa-múndi. Que me desculpem as pessoas mais céticas, mas considero fundamental manter a curiosidade para tudo aquilo que pode contribuir para o autoconhecimento. E, quem se conhece mais, também viaja melhor ao tomar decisões mais propositadas. Isso sem contar a contemplação do mistério que é viver.
Pois bem, o mapa astrocartográfico relaciona as viagens físicas pelo mundo com a astrologia, que por sua vez leva em conta informações de nascimento, como local, data e hora. A partir desse cruzamento, são desenhadas no mapa múndi diferentes linhas com símbolos planetários — cada planeta está associado a um aspecto diferente da vida, tais como amor, carreira e família. Os lugares que coincidem com as linhas ou que estão na intersecção delas são supostamente mais significativos, poderosos ou transformadores para cada pessoa.
Nesse sentido, a astrocartografia é uma ferramenta que pode explicar por que nos sentimos bem em determinada localização ou não tão bem em outra. As informações têm potencial não apenas de consolidar escolhas de viagem, mas também mudanças de vida. E, de novo, é só uma ferramenta. Não é e nem precisa ser a única. Até porque vive-se em tempo algorítmico, então se você do dia para a noite passou a sonhar com a Ilha do Ferro é porque agora as páginas de viagem só falam deste destino alagoano para o qual toda a gente passou a desejar ir.
Embora tenha curiosidade, ainda não fiz uma consulta astrocartográfica, nem sequer uma astrológica. Mas já vi o meu mapa natal conjugado com o mundo1. Surpreendi-me, mas não muito, ao observar uma das linhas aparentemente mais significativas cruzar a Sardenha, destino de uma das melhores viagens da minha vida. Foi nesta ilha do Mediterrâneo que senti uma conexão imediata poucas vezes experimentadas. Não à toa, vivo pensando em voltar.
Em contrapartida, também consigo me lembrar de locais onde senti mais dificuldade de navegar. De toda forma, cada destino é único e pode ser vivenciado de infinitas maneiras, inclusive de forma diferente consoante a fase da vida. A mágica acontece quando o caminho interno parece confluir com o externo, validando de alguma forma aquela aventura.
Divagações pessoais à parte, a astrocartografia dá margem para pensar de que forma os lugares são capazes de nos transformar. Penso ser esse o seu verdadeiro trunfo. A energia do movimento em direção a determinadas localidades pode despertar algo que talvez até já estivesse ali, mas que precisava de terreno fértil para irromper. Ou simplesmente de deslocamento, o físico e a sensação.
Que certos lugares tenham o poder mudar algo dentro de nós para nos inspirar ou desafiar a crescer e transformar é fascinante para mim. E isso valida ainda mais as razões pelas quais as pessoas precisam desenraizar-se e trocar de cidade por períodos de suas vidas. Ou quando a única opção parece ser tirar férias de casa e da vida regular em algum lugar distante. Em todos os casos, viajar muda e cura, ajuda a evoluir.
UMA ÚLTIMA VISTA D'OLHOS 👀
[Inspiração para espreitar antes de ir embora]
— Azul maya, uma cor inventada na Mesoamérica;
— Ordinário extraordinário, fotografia de Tim Damas em Nápoles, na Itália, que também é cenário de Parthenope, novo filme de Paolo Sorrentino;
— O tempo do caju, um apanhado de informações sobre a fruta que molda a identidade de um país;
— A banalidade das recomendações online, reportagem sobre o impacto dos algoritmos nas nossas escolhas, inclusive de viagens;
— Pôsteres de boas maneiras, a arte da gentileza no transporte público do Japão expressa graficamente.
Obrigada pela leitura até o fim! Espero que você tenha passado um ótimo fim de ano e sinta-se bem para começar 2025.
Há alguma meta de viagem por aí? Se sim, compartilha comigo? Por aqui, ainda tudo na fase de planejamento.
Bom proveito e até a próxima edição!
Um abraço,
“A vida é o que fazemos dela. O viajante é a jornada. O que vemos não é o que vemos, mas quem somos”, Fernando Pessoa.
Nunca, nunca tinha ouvido falar de astrocartografia. Lógico que a curiosidade bateu pra ver o meu mapa também haha. Achei difícil interpretar, mas olha que curioso: tenho duas linhas que cruzam bem a Terra do Fogo, na Patagônia Argentina, onde passei minha lua de mel!
se tem uma coisa que eu adoro fazer é planejar viagem: escolher para onde ir, em que época do ano é melhor para os meus objetivos, ver as opções de lazer, onde comer bem, pesquisar hotéis… já acabo uma viagem planejando a seguinte.