31 | É dia de feira, não importa a feira 🧺
Nem a viagem: se houver um mercado público no caminho, lá estarei. E mais: uma seleção de feiras para visitar pelo mundo.
“O olhar tem que viajar”, título do documentário sobre Diana Vreeland, que foi editora-chefe da Vogue americana e da Harper's Bazaar.
Alguns hábitos repetem-se em viagens. Para mim, um deles é acordar cedo e ir até o mercado público mais próximo de onde estou hospedada. Não me refiro necessariamente aos food halls, que se multiplicam a olhos vistos em locais turísticos. Nada contra, até vivo em uma cidade com uma unidade do Time Out Market aberta há poucas semanas, mas prefiro feiras mais simples. Menos assépticas e mais autênticas, sabe?
É claro que pode ser saudade crônica de pastel e caldo de cana, a instituição brasileira tão intrinsecamente ligada a esses espaços, mas também é um costume transmitido pelo meu pai. De mãos dadas, visitávamos o Mercado Público de Itajaí, onde cresci, com alguma frequência. Hoje, recebo vídeos da pesca do dia e quase posso sentir aquela intensidade de cheiros, que deixou de incomodar e passou a ser apreciada com o passar dos anos.
Em deslocamentos, caso o sono vença o despertador, deixo para visitar os mercados de rua pela hora do almoço. Nunca depois disso. Não me interessa a xepa, afinal, mas o burburinho das bancas sendo abastecidas — e devoradas — com o que há de mais fresco no entorno. Os produtos são diversos e vão desde queijos, peixes e carnes, passando por legumes e frutas para chegar ao artesanato ou cafeteria. Nos mais exóticos, há até animais vivos. Independentemente do horário de visita, são espaços que enchem de vida as minhas viagens.
Para além de conhecer o que aquele território oferece — e saber o que pedir no restaurante ao lado, que tende a prezar pelo pelo frescor dos insumos —, visitar mercados públicos também é uma forma deliciosa de observar o cotidiano local, quase sempre sem aquela plasticidade de Instagram. Pontos de encontro, costumo enxergá-las como o coração pulsante das cidades, por onde gosto de começar a desvendá-las.
Outro motivo que me atrai em se tratando de mercado está relacionado à arquitetura. Quando não acontecem ao ar livre, em geral são espaços públicos projetados a partir da premissa do convívio. Também costumam contar histórias aos olhos mais atentos. Tudo isso eleva a experiência para quem frequenta regular ou ocasionalmente.
Como se fosse preciso mais, ainda é possível ir além da cultura alimentar nos mercados públicos, já que é cada vez mais comum a existência de concertos musicais nesses espaços. Na última vez em que estive no Brasil, fui a uma roda de samba inesquecível não apenas em um, mas dois mercados públicos. Além-mar, no tradicional Mercado do Bolhão, há um piano acessível para quem quiser arriscar-se entre uma compra e outra, bem como uma programação musical por semana.
Mas, para mim, música para os ouvidos vem mesmo é do gogó dos feirantes. Óóóólha a sardinha fresca, anuncia a peixeira em véspera de São João português. Os pimentos padrón, ali da Galicia, compõem a barraca ao lado e também pedem brasa. Batata, couve e chouriço enchem primeiro o sacolão, depois o caldeirão da senhora que pechincha, faz feira e festa de avental. Vai uma cereja do Fundão para arrematar, menina?
FLÂNEUSERIE 💃🏻
[Recomendações de lugares por onde andei, testei e aprovei]
— Mercado San Antón, em Madrid: mercado de bairro bem contemporâneo, com uma ótima seleção de produtos, restaurantes e bares, além de uma identidade visual de babar;
— Mercado Central, em Belo Horizonte: lugar incontornável para provar fígado com jiló regado com uma cerveja bem gelada e ainda ir ao Cozinha Tupis, restaurante que homenageia a cultura alimentar do centro de BH;
— Souks de Marrakech: labirínticos e infinitos, os mercados de rua do Marrocos são uma atração por si só, mas exigem jogo de cintura e respeito para negociar, uma prática bem cultural do mundo árabe;
— Borough Marketh, em Londres: um dos maiores e mais antigos mercados de alimentos da cidade que inventou o conceito nose to tail, uma ótima programação prévia ou posterior ao Tate Modern;
— Mercato Storico Albinelli, em Módena: o coração do vale da comida da Itália, onde senti os melhores aromas e vi os produtos mais bonitos de toda a vida.
SALVO EM ONDE QUERO IR 💾
[Onde ainda não fui, mas salvei na lista para ir]
— Ver-o-Peso, em Belém: apenas a maior feira a céu aberto da América Latina, às margens do rio;
— The Grand Bazaar, em Istambul: um dos maiores do mundo, com uma arquitetura fascinante;
— Hakaniemi Market Hall, em Helsinque: especializado em frutos do mar, mas com uma variedade de lojas;
— Temple Street Night Market, em Hong Kong: um mercado noturno que fiquei com vontade de conhecer desde que assisti à série Expats (Amazon Prime);
— La Hechicera, em La Paz: o mercado “das bruxas”, organizado sobretudo por mulheres bolivianas que cultivam a herança indígena quechua.
→ Tem alguma recomendação? Deixa pelos comentários!
UMA ÚLTIMA VISTA D'OLHOS 👀
[Inspiração para espreitar antes de ir embora]
— Dia de feira, o single da guitarrista de fado Marta Pereira da Costa, quem conheci recentemente a partir da participação em uma ótima edição do Tiny Desk Concert;
— Jacquemus abriu uma loja em Capri, além de ter comemorado 15 anos da marca com um desfile na icônica Casa Malaparte, que pertenceu ao autor de A pele. A divulgação em torno de tudo isso é um deleite, como sempre, com imagens incríveis da ilha italiana;
— Tirinha da New York Mag sobre uma viagem solo a Viena;
— As 10 rotas aéreas mais turbulentas do mundo, já que tem se falado bastante a respeito;
— 36 hours in Porto, a tradicional série do New York Times listou o que fazer em três dias na minha cidade, que recebe cada vez mais atenção turística, se é que isso é possível.
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Ei, obrigada pela leitura! Agora, se tiver um tempinho, me diz o que achou? Falando nisso, gostaria de saber a tua opinião sobre a periodicidade desta newsletter, algo que venho repensando por aqui:
Bom proveito e até a próxima edição – a princípio, toda sexta-feira na tua caixa de entrada ou no aplicativo do Substack!
Um abraço com carinho,
“Num bom filme, a câmera tem de ser o olho na cabeça de um poeta”, Orson Welles citado em uma exposição sobre cinema e poesia que vi no intervalo de escrita esta edição.
que delícia de texo!
já tive a oportunidade de visitar o grand bazaar em instambul e é realimente belíssimo!
mercado é onde a vida está, onde podemos aprender com os locais! é aquela passada imperdivel em qualquer viagem! Be a traveller not a tourist!